Na última visita do Sindicato do Magistério Municipal Público de Vitória da Conquista (Simmp) à Escola Municipal Virgílio Ferraz de Oliveira, uma escola quilombola localizada no povoado Lagoa de Melquíades, o cenário encontrado foi nada menos que um retrato desesperador de descaso e negligência. A denúncia que motivou a visita revelou um quadro alarmante, que contrasta brutalmente com a propaganda ilusória promovida pela administração pública.
Anteriormente, no primeiro semestre do ano, o Simmp esteve presente nessa mesma escola, onde encontrou diversos problemas, principalmente na infraestrutura para o funcionamento não só de uma escola em período regular, mas principalmente para o suporte a alunos em tempo integral e prometeu que voltaria para certificar-se de que os problemas teriam sido resolvidos. Ledo engano, alguns meses depois o Simmp retornou e os problemas não só continuaram como aumentaram.
Ao adentrarmos a escola, nos deparamos com uma série de irregularidades que são, no mínimo, inaceitáveis. As cisternas, em completo desrespeito à segurança das crianças, estão ao alcance dos pequenos no pátio escolar, enquanto fiações de rede elétrica expostas representam um sério risco de choque. As salas de aula e o pátio apresentam pisos quebrados com quinas pontiagudas, uma verdadeira armadilha para os alunos. E, para completar a lista de absurdos, uma turma do 3º ano tem suas aulas realizadas no pátio da escola, onde um tecido do tipo TNT, improvisadamente amarrado a vigas e pilastras de madeira, serve de “parede” para a sala.
É difícil encontrar palavras que façam justiça ao nível de insanidade apresentado. Estamos falando de uma escola quilombola, que recebe recursos adicionais do Governo Federal, principalmente para a merenda escolar. No entanto, o que se vê é uma escola que, além de oferecer apenas três refeições diárias para uma unidade de tempo integral, conta com uma sala de professores tão diminuta que mal acomoda três pessoas, com apenas 1.71m de largura por 3.34m de comprimento.
E o que dizer do horário de almoço? A realidade enfrentada pelos professores e funcionários é a completa falta de um momento adequado para descansar e retomar as atividades pedagógicas pela falta de profissionais suficiente para dar conta da demanda. Quando conseguem, frequentemente são interrompidos para resolver problemas corriqueiros dos alunos, que também enfrentam a escassez de espaços apropriados para atividades físicas, recreativas ou mesmo para um intervalo decente.
O espaço que deveria servir como refeitório está inutilizado devido a erros ergonômicos grotescos nos móveis, que transformaram o ambiente em uma zona de desconforto. É um contraste chocante com as promessas de excelência na educação feitas pela atual gestão. Se a educação em Vitória da Conquista foi realmente elevada a patamares estratosféricos como diz o Governo Municipal e sua claque, não há como não se perguntar: seria isso mesmo?
Maria Aparecida Vieira da Silva, mãe de uma aluna da escola, expressou sua profunda indignação ao Simmp: “minha filha até já adoeceu por conta disso. Esse espaço não tem condições de funcionar como sala de aula. Pra mim, tá tudo negativo, tá péssimo, olha a situação dessa escola!”, desabafou. Seu descontentamento é um reflexo claro do estado deplorável em que a escola se encontra.
Diante de uma situação tão alarmante, questiona-se o que o “governo para pessoas” tem a dizer sobre o padrão de educação oferecido no povoado Lagoa de Melquíades. A distância entre a realidade vivida pelos alunos e o cenário pintado nas propagandas políticas não poderia ser mais gritante. O Simmp continuará a lutar por melhorias reais e urgentes para que a educação em nossa cidade não se transforme em um mero teatro de falsas promessas.