Enquanto as propagandas do Governo Sheila Lemos vendem a ideia de uma educação pública municipal moderna e acessível, a realidade enfrentada por comunidades como a do povoado de Abelhas, próximo ao distrito de Inhobim, expõe uma verdade bem diferente. A Escola Municipal Manoel Martins Ferreira é o exemplo vivo do descaso e abandono da educação em Vitória da Conquista, uma face oculta da administração que pouco se vê nos anúncios oficiais.
Dona Jucélia Silva, moradora do povoado e avó de aluno, relata com indignação o que muitos familiares e professores vivenciam diariamente: “a escola tá precisando de outra escola. As salas de aula são pequenas, não tem espaço para as crianças brincarem, e o pedacinho que tem é descoberto. Tem uma fossa no meio do pátio, um risco enorme para as crianças. Só tem dois banheiros e as salas molham quando chove.” A afirmação de Dona Jucélia denuncia uma infraestrutura física precária, imprópria e até perigosa para as crianças.
A Secretária de Formação Sindical, Assuntos Intersindicais e Comunitários do Simmp, Vanda Gusmão, reforça que a situação não é apenas desconfortável, mas representa uma ameaça ao direito fundamental à educação de qualidade. Segundo ela, a escola que pertence ao Círculo Escolar Integrado (CEI) de Inhobim, está em condições deploráveis de funcionamento: “a estrutura física está comprometida, sem espaço adequado para os professores ou alunos, e a escola não possui nem nome no muro, o que reflete a falta de identidade e pertencimento.”
A sala dos professores, reduzida a um corredor, é um símbolo perfeito desse descaso. Ali, um pequeno sofá divide espaço com prateleiras cheias de materiais escolares, evidenciando a falta de cuidado básico com os profissionais da educação. Para completar o cenário de abandono, o portão da escola é minúsculo, desrespeitando normas mínimas de acessibilidade e segurança.
Essa triste realidade contrasta com o que deveria ser a missão da Educação do Campo, que visa não apenas a aprendizagem básica, mas o desenvolvimento da comunidade rural. Como bem destaca Darciel Pasinato em seu estudo sobre a trajetória das escolas rurais no Brasil: “A Educação do Campo, além de garantir a aprendizagem básica para todos os estudantes, busca proporcionar a eles habilidades e conhecimentos que estejam diretamente relacionados às suas realidades e às demandas do meio rural, contribuindo assim para o desenvolvimento pessoal, profissional e para a melhoria da qualidade de vida das comunidades.” (2018)
No entanto, o cenário da Escola Manoel Martins Ferreira está longe desse ideal. Os relatos deixam claro que a escola não está em condições adequadas para abrigar os alunos da comunidade, muito menos para garantir um ensino de qualidade. A quantidade de alunos já excede a capacidade das pequenas salas, e o espaço para atividades recreativas ao ar livre é inexistente ou perigoso. A presença de uma fossa no pátio, um risco de saúde pública, reforça a gravidade do problema, algo que dificilmente aparece nas propagandas.
A administração atual pode tentar pintar uma imagem otimista, mas é no cotidiano de escolas como essa que a verdadeira face da educação municipal de Vitória da Conquista se revela. O investimento em melhorias estruturais é urgente e indispensável. Não se trata apenas de uma reforma, mas de um compromisso ético com o futuro de crianças que, hoje, têm seu direito à educação de qualidade negligenciado.
O Sindicato do Magistério Municipal Público de Vitória da Conquista (Simmp) continua denunciando essa realidade e cobrando das autoridades uma resposta concreta. É inaceitável que em pleno século XXI, em uma cidade do porte de Vitória da Conquista, escolas públicas estejam em condições tão indignas.
A educação pública não pode ser apenas uma promessa de campanha ou uma peça publicitária bem editada. Precisa ser uma realidade digna, onde crianças e professores encontrem não só um espaço seguro, mas um ambiente que inspire aprendizado, crescimento e cidadania. A comunidade do povoado de Abelhas, como tantas outras, merece uma educação pública que esteja à altura de suas necessidades e expectativas, não a precariedade camuflada por propagandas.